XXXIX.
quero escrever sobre como é passar. todo o tempo. da minha vida. ao teu lado. mordo os dedos. mordo a carne. segura da falange. a pele absorve a saliva. eu cresço. de dentro. para fora. de mim. até ti. e deixo. que as minhas mãos te segurem.
somos assim. duas pedras. paradas no fundo de um rio. eu e tu. a ver o mundo a desfiar-se. tu. moves-te. és mais leve. mais bonita. menos verdadeira. para com a tua condição. estática. de pedra. e eu. mais pesado. mais lento. para não dizer. mais feio. e desonesto. para com todo o meu desejo. de mover. para junto de ti. e na passada do rio. tu vais. e eu fico.
e à noite. quando tu e eu. permanecíamos juntos. sobre todo aquele peso de água. tu. eras. a pedra. que mais brilhava. e eu. confundia-me. com o cascalho. e nesse lugar. tudo o que te disse. não se fez.
quero. escrever. sobre esse tempo. e não consigo. deixei secar a saliva sobre a falange. e a pele secou.
terça-feira, 26 de julho de 2016
domingo, 24 de julho de 2016
quarta-feira, 20 de julho de 2016
XXXVII.
em todas as palavras escritas. o teu nome. em todas as palavras. por dizer. todo o silêncio que cabe dentro. de uma mão. fechada. noutra mão.
aqui. e agora. quero que saibas. que só. tu. leste. naquele segredo guardado nos meus olhos. como pretendo. partir. naquele dia. que será. o ultimo. das nossas vidas. arruinadas. por tanto. do que fui.
tu. sabes que sou. a tempestade e o cão. malvado. que se perdeu no caminho de casa. o coração. aberto e a escutar. o tempo. a tua ultima memória. que se vendeu. rasgada. e eternamente inconsolável. a terra. e tudo o que odiaste. em vida.
em todas as palavras escritas. o teu nome. em todas as palavras. por dizer. todo o silêncio que cabe dentro. de uma mão. fechada. noutra mão.
aqui. e agora. quero que saibas. que só. tu. leste. naquele segredo guardado nos meus olhos. como pretendo. partir. naquele dia. que será. o ultimo. das nossas vidas. arruinadas. por tanto. do que fui.
tu. sabes que sou. a tempestade e o cão. malvado. que se perdeu no caminho de casa. o coração. aberto e a escutar. o tempo. a tua ultima memória. que se vendeu. rasgada. e eternamente inconsolável. a terra. e tudo o que odiaste. em vida.
segunda-feira, 18 de julho de 2016
XXXVI.
já ninguém lê poemas de amor. não. já ninguém escreve. sobre esse vazio deixado ao tempo. não. porque. não haja amor. para escrever. mas porque o amor denso que a imortalidade. vergou. e fez morrer no coração. dos que ainda vivem à espera. já se fechou. por dentro. eu. sou. uma pedra atirada. sobre este céu. uma palavra por dizer. e tu. dizes. amo-te. e tudo. o que havia por escrever. eu. cerro as mãos. e todo o ar. que nelas reservei. para me fazer viver. se foi. à dureza da pele. ao molde. que lhe fiz. temer. tudo o que ficou por dizer. não. já ninguém lê. poemas de amor.
já ninguém lê poemas de amor. não. já ninguém escreve. sobre esse vazio deixado ao tempo. não. porque. não haja amor. para escrever. mas porque o amor denso que a imortalidade. vergou. e fez morrer no coração. dos que ainda vivem à espera. já se fechou. por dentro. eu. sou. uma pedra atirada. sobre este céu. uma palavra por dizer. e tu. dizes. amo-te. e tudo. o que havia por escrever. eu. cerro as mãos. e todo o ar. que nelas reservei. para me fazer viver. se foi. à dureza da pele. ao molde. que lhe fiz. temer. tudo o que ficou por dizer. não. já ninguém lê. poemas de amor.
sexta-feira, 15 de julho de 2016
XXXV.
todo. o amor. dentro deste mundo. não cabe. dentro. de mim. o espaço exíguo. que o meu peito. deformado. tomou. para si. deixou-me. apenas. lugar. para assentar as memórias. nem ar. respiro. nem calor. sinto. sou. um baloiço vazio. a baloiçar. no ar. naquele movimento. lento. em que todo o impulso. que o corpo. faz. se despenha. ausente. na terra.
todo. o amor. é uma inutilidade. sem corpo. todo o corpo. é. um mero instrumento. de fuga. sem amor. e nessa conversa seca. entre o que é o amor. e o corpo. eu.
desisto.
todo. o amor. dentro deste mundo. não cabe. dentro. de mim. o espaço exíguo. que o meu peito. deformado. tomou. para si. deixou-me. apenas. lugar. para assentar as memórias. nem ar. respiro. nem calor. sinto. sou. um baloiço vazio. a baloiçar. no ar. naquele movimento. lento. em que todo o impulso. que o corpo. faz. se despenha. ausente. na terra.
todo. o amor. é uma inutilidade. sem corpo. todo o corpo. é. um mero instrumento. de fuga. sem amor. e nessa conversa seca. entre o que é o amor. e o corpo. eu.
desisto.
terça-feira, 5 de julho de 2016
XXXIV.
ao mar. imenso. sou. todo o teu coração. a bater. até que as marés se acabem. e tudo se desmanche. sobre esta cortina negra. com que fiz. a morada para te escrever. ao mar. imenso. não sou nada. nem a penumbra da tua presença. nem o chão. castigado à morte. lenta. das pedras. ao mar. imenso. e tanto. de ti. sem lugar. para onde ir. nem. tempo. nem. terra. ao mar. imenso. sem fim. que a saudade. seja. toda a água que bebas. e não te canses. do meu exíguo corpo. e da escassez. de mim.
ao mar. imenso. sou. todo o teu coração. a bater. até que as marés se acabem. e tudo se desmanche. sobre esta cortina negra. com que fiz. a morada para te escrever. ao mar. imenso. não sou nada. nem a penumbra da tua presença. nem o chão. castigado à morte. lenta. das pedras. ao mar. imenso. e tanto. de ti. sem lugar. para onde ir. nem. tempo. nem. terra. ao mar. imenso. sem fim. que a saudade. seja. toda a água que bebas. e não te canses. do meu exíguo corpo. e da escassez. de mim.
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