XLVII
todas as manhãs. quando acordo. tenho as mãos fechadas debaixo do peito. costumo dormir de barriga para baixo. corpo na cama vincado. as coxas contidas contra o colchão. os pés. enrolados um no outro. meia almofada abraçada. a outra meia. parte. para a esconder o rosto. outra almofada inteira. para abraçar a cabeça. corpo meio tapado até aos rins.
naquele silêncio. emprestado aos pássaros nas árvores e aos carros. colados à estrada. e à luz. turva. que atravessa o quarto. até ao meu corpo. abandonado. a mim. consigo sentir. todo o peso do ar. contido. abro as mãos. e tento desfazer os nós. de um rasgo de vida. daquela manhã.
.é outro dia. digo.
é o mesmo. dia. de sempre. penso.
abro. lentamente. os olhos. que já me viam de dentro para fora. e escolho. levantar-me. daquela frieza toda.
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