terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

I. (2018)

.eu sabia onde te encontrar em qualquer multidão. se toda gente estivesse vestida de negro. tu terias mais brilho no opaco das tuas roupas. se estivesse toda gente apressada. tu estarias de passo lento e demorado com a luz a esbater-se no teu cabelo. se estivesse tudo à procura de alguém. tu estarias à espera de mãos cruzadas e de pele fria. é assim. que o tempo se prolonga entre nós e se encolhe em cada corpo que encontra na multidão e se estende e estica até à escuridão daquele perímetro de gente. e volta. para te encontrar a balançar sobre o destino partido. a dançar com outros braços. a rir com os olhos noutros olhos. e nesse momento. mais ninguém seria testemunha de qualquer ausência. senão a minha. senão. eu.

.assim. todos os dias escrevo uma carta para te entregar. e em todas escrevo na candura do papel. que vou para longe de ti. ver o mar. e em todas as vezes. espero que esteja de ondas enroladas como os braços de um gigante de coração partido. a tentar salvar um império de náufragos. e o que resta do tempo. o mesmo que não sobra para esperar por ti. a vida é curta para isso. é longa para tudo o resto.

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