terça-feira, 26 de julho de 2016

XXXIX.

quero escrever sobre como é passar. todo o tempo. da minha vida. ao teu lado. mordo os dedos. mordo a carne. segura da falange. a pele absorve a saliva. eu cresço. de dentro. para fora. de mim. até ti. e deixo. que as minhas mãos te segurem. 

somos assim. duas pedras. paradas no fundo de um rio. eu e tu. a ver o mundo a desfiar-se. tu. moves-te. és mais leve. mais bonita. menos verdadeira. para com a tua condição. estática. de pedra. e eu. mais pesado. mais lento. para não dizer. mais feio. e desonesto. para com todo o meu desejo. de mover. para junto de ti. e na passada do rio. tu vais. e eu fico. 

e à noite. quando tu e eu. permanecíamos juntos. sobre todo aquele peso de água. tu. eras. a pedra. que mais brilhava. e eu. confundia-me. com o cascalho. e nesse lugar. tudo o que te disse. não se fez. 

quero. escrever. sobre esse tempo. e não consigo. deixei secar a saliva sobre a falange. e a pele secou. 

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