sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

II. (2018)

<desajustado> 
é a mínima palavra que se pode dizer em relação a mim. tal como um passo falha o chão. tropeça. e faz cair o corpo. eu sou a falha e não o passo falhado. aquele vazio de chão que faltou cumprir. ou o pequeno pormenor do gesto. que o pé tomou para não encontrar a razoabilidade do equilíbrio. 

em determinados dias cinzentos. sou o quadrado branco. na face vermelha do cubo de kubrick. ou aquela volta insistente que teimamos dar. onde as peças fazem resistência umas nas outras. e estalam. e resmungam com os dedos. para nunca encontrarmos a solução para fazer a linha. ou a cor toda daquela face. (raio do cubo!)

ou até mesmo. a onda do mar. que falha a terra. e se desfaz em espuma até aos pés. tanto que a onda era para ser. aquele destino fantástico de se enrolar. toda sobre aquela massa de água revolta. e acabar. por se desmoronar contra a terra. até se espalhar pelo vento. em vapor. destemido pelo ar. cruzando-se com os raios de sol. fazendo um arco-iris. (foda-se, isto na minha cabeça é uma imagem do caraças!)


tal como a inutilidade de ter. fósforos. e nada ter para acender. tal como amar quem apenas nos maltrata a carne e nos come os sonhos. tal como ler um livro e não saber no fim. se a personagem morre ou permanece estática e presa aquele papel. tal como ter. vida e vontade num corpo. deitado numa cama. sem dela se poder levantar. tal como. haver pássaros no ar e lugar algum para pousar. matar a fome. e descansar. tal como todo o silêncio entre cada um dos batimentos do coração. tal como ter bolsos e nada ter para neles guardar. e numa casa às escuras. eu sou. a folha dobrada com uma nota escrita. a fazer de lembrete. <não esquecer de pagar a luz> 


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